Revisões da Literatura Narrativas
Uma revisão da literatura narrativa consiste na recolha, síntese e análise crítica de fontes sobre um determinado tópico. Pode ser uma secção de uma tese/dissertação ou projeto ou constituir um trabalho académico próprio. Distingue-se das revisões do tipo sistemático por não ser obrigatório que siga um protocolo estruturado, permitindo maior flexibilidade na seleção, análise e síntese das fontes.
Entre os objetivos da realização de uma RL, destacam-se:
- Contextualizar o tema e a investigação;
- Sumarizar e analisar a investigação desenvolvida até ao momento e teorias existentes;
- Identificar tendências e lacunas.
- Definir o tema e a questão de revisão;
- Identificar os termos de pesquisa relacionados com os diferentes conceitos que compõem o tema;
- Selecionar as fontes de informação e as estratégias de pesquisa a aplicar;
- Recolher as fontes resultantes das pesquisas;
- Extrair os dados e organizá-los de acordo com a estrutura lógica que se pretende conferir à revisão;
- Redigir a revisão.
Antes de definir a questão de revisão, recomenda-se a realização de uma pesquisa preliminar sobre o tema. Esta etapa permite obter uma caracterização geral do assunto, o que facilita o refinamento da questão — seja tornando-a mais focada ou mais abrangente, conforme necessário.
Com a questão já delineada, o passo seguinte consiste em identificar os principais conceitos que a compõem. Para cada conceito, deve-se elaborar uma lista de termos relevantes, incluindo sinónimos, variações linguísticas, termos relacionados e, quando aplicável, vocabulário controlado. Esta seleção deve basear-se tanto no conhecimento prévio sobre o tema, como na pesquisa exploratória realizada anteriormente e deverá considerar a tradução dos termos para inglês, uma vez que é o principal idioma de indexação das bases de dados de referência.
As práticas de publicação variam entre áreas de conhecimento, o que influencia diretamente os tipos de fontes a considerar numa pesquisa bibliográfica. Dependendo da disciplina, podem ser relevantes:
- Livros e manuais;
- Artigos científicos publicados em revistas especializadas;
- Literatura cinzenta, como comunicações em conferências, teses e dissertações, relatórios técnicos ou institucionais, e normas.
A localização destas fontes exige uma pesquisa cuidadosa em diferentes tipos de recursos, como catálogos de bibliotecas, repositórios institucionais, bases de dados científicas e websites de organizações ou instituições reconhecidas na área.
A Universidade Católica Portuguesa disponibiliza o EBSCO Discovery Service, uma interface agregadora que permite pesquisar de forma integrada em todos os recursos subscritos pela instituição, incluindo a coleção física da biblioteca e outras fontes complementares.
Para uma pesquisa bibliográfica eficaz, é essencial cruzar diferentes tipos de fontes. Por isso, recomenda-se a consulta das bases de dados específicas da sua área de conhecimento, bem como de recursos multidisciplinares como a Scopus e a Web of Science. Estas plataformas oferecem ferramentas avançadas de análise dos resultados, que podem apoiar na definição de critérios de seleção e na identificação das publicações mais relevantes.
De forma complementar, têm vindo a surgir ferramentas baseadas em inteligência artificial que podem desempenhar um papel cada vez mais relevante na formulação de estratégias de pesquisa. Um exemplo é a Scopus AI, que permite realizar pesquisas em linguagem natural, recuperar sumários temáticos e explorar autores, tópicos e questões relacionadas de forma rápida e intuitiva.
Pesquisa Booleana em Bases de Dados e Repositórios
A forma tradicional de pesquisa em bases de dados científicas baseia-se na utilização de palavras-chave combinadas com operadores booleanos AND, OR e NOT. Estes operadores funcionam como conectores lógicos que definem a relação entre os termos de pesquisa. Por exemplo, ao pesquisar anxiety AND adolescents, a base de dados irá recuperar apenas os documentos que contenham ambos os termos. Já anxiety OR adolescents irá recuperar documentos que contenham pelo menos um dos dois termos, e anxiety NOT adolescents excluirá os que mencionem "depressão".
Além da combinação de termos, é fundamental definir os campos de pesquisa, ou seja, onde os termos devem ser procurados. Os campos mais comuns incluem o título, o resumo, as palavras-chave, ou combinações entre estes. Por exemplo, pode-se restringir a pesquisa para que um termo apareça apenas no título, aumentando a relevância dos resultados.
Outros recursos importantes para refinar a pesquisa incluem:
- Aspas (" "): para procurar expressões exatas. Por exemplo, "anxiety disorder" garante que os resultados contenham exatamente essa expressão.
- Truncatura (*): para recuperar variações de uma palavra. Por exemplo, psycholog* irá recuperar psychology, pychologist, entre outros.
- Parênteses (): para agrupar termos e operadores, especialmente em pesquisas mais complexas. Exemplo: (anxiety OR stress) AND adolescen*.
Pesquisa “Bola de Neve”
De forma complementar à pesquisa em bases de dados, uma das estratégias mais eficazes para identificar fontes relevantes consiste em partir de documentos já selecionados como pertinentes. Este processo pode ser realizado em duas direções principais:
- Pesquisa manual nas referências bibliográficas dos documentos identificados — conhecida como backward citation searching. Por exemplo, ao consultar um artigo relevante, pode-se explorar os estudos que esse artigo cita, o que permite recuar na linha de investigação e identificar trabalhos basilares ou contextuais.
- Pesquisa manual em documentos que citam o artigo identificado — conhecida como forward citation searching. Esta abordagem permite avançar na linha de investigação, identificando estudos mais recentes que utilizaram ou se basearam no artigo em questão. Bases de dados referenciais, como a Scopus e a Web of Science facilitam este tipo de pesquisa, pois disponibilizam ligações diretas para os artigos que citam uma determinada fonte.
Pesquisa em Linguagem Natural
O avanço da inteligência artificial tem trazido contributos significativos para a área da pesquisa bibliográfica. Atualmente, várias bases de dados científicas integram funcionalidades que permitem realizar pesquisas em linguagem natural, ou seja, utilizando frases em vez de expressões booleanas. Por exemplo, em vez de pesquisar anxiety AND adolescen*, é possível escrever diretamente: "Quais são os efeitos da ansiedade em adolescentes?", e obter resultados relevantes.
Uma das ferramentas que exemplifica esta evolução é a Scopus AI, que permite explorar tópicos de investigação através de perguntas em linguagem natural, sugerindo termos relacionados, refinando a pesquisa e facilitando a descoberta de literatura científica pertinente. Outros recursos, como o EBSCO Discovery Service e a Web of Science, também têm vindo a incorporar funcionalidades semelhantes.
Para uma gestão eficaz das fontes selecionadas ao longo da pesquisa, recomenda-se a utilização de gestores de referências bibliográficas, como o Zotero ou o Mendeley. Estas ferramentas permitem, por um lado, organizar as fontes de forma estruturada, facilitando o acesso e a reutilização posterior e, por outro, automatizar o processo de criação de citações e referências bibliográficas.
Artigos
Cronin, P., Ryan, F., & Coughlan, M. (2008). Undertaking a literature review: a step-by-step approach. British Journal of Nursing, 17(1), 38–43. https://doi.org/10.12968/bjon.2008.17.1.28059
Ferrari, R. (2015). Writing narrative style literature reviews. Medical Writing, 24(4), 230–235. https://doi.org/10.1179/2047480615Z.000000000329
Grant, M. J., & Booth, A. (2009). A typology of reviews: an analysis of 14 review types and associated methodologies. Health Information & Libraries Journal, 26(2), 91–108. https://doi.org/10.1111/j.1471-1842.2009.00848.x
Gregory, A. T., & Denniss, A. R. (2018). An Introduction to Writing Narrative and Systematic Reviews — Tasks, Tips and Traps for Aspiring Authors. Heart, Lung and Circulation, 27(7), 893–898. https://doi.org/10.1016/j.hlc.2018.03.027
Monografias
Aveyard, H., Payne, S., & Preston, N. (2021). A post-graduate’s guide to doing a literature review in health and social care (2n ed.). Mc Graw Hill, Open University Press.
Hart, C. (2025). Doing a literature review: releasing the research imagination (3rd ed.). Sage.
Ridley, D. (2012). The literature review: a step-by-step guide for students (2n ed.). SAGE.