Aldino Campos: "Conferência de Nice: a espuma das palavras e o silêncio das marés"
A Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC 2025), realizada em Nice entre 9 e 13 de junho, foi anunciada como um momento crucial para a "década da ação azul". Em teoria, reunia os ingredientes certos: uma localização simbólica, líderes globais, ciência consensual e uma urgência planetária que já ninguém pode ignorar. Mas, findos os discursos, as fotografias e os painéis inspiradores, o que sobra de Nice? Uma nova vaga de promessas ou apenas mais espuma retórica?
A Declaração de Nice, produto final do encontro, é sintomática daquilo que tem marcado a diplomacia oceânica nas últimas décadas: ambição nos adjetivos, prudência nas decisões e escassez na execução. Fala-se em proteger 30% dos oceanos até 2030, em implementar o Acordo sobre a Biodiversidade em Áreas além da Jurisdição Nacional (BBNJ), e em financiar transições azuis inclusivas. Tudo correto. Tudo necessário. Mas tudo já dito antes e quase sempre por cumprir. A retórica é polida, consensual e quase irrepreensível. O problema, como sempre, está na tradução prática. Por detrás da coreografia diplomática, permanece uma governação oceânica fragilizada, onde os interesses económicos e estratégicos continuam a sobrepor-se às evidências científicas.
Nota: Este conteúdo é exclusivo dos assinantes do jornal de Negócios de 23 de junho de 2025.