As 100 Mulheres Mais Influentes do País

A guerra tem efeitos catastróficos, mas as mulheres e as crianças carregam um peso diferente e acrescido, alertam as Nações Unidas. A violência contra as mulheres e as crianças é uma das características da guerra. E um conflito na Europa, que se segue a uma pandemia, amplifica os efeitos sobre as mulheres. Quando as guerras passam ou quando os homens saem do território e as mulheres ficam, o efeito pode ser muito diferente, como aconteceu nos Estados Unidos na II Guerra Mundial. Os refugiados da Ucrânia são esmagadoramente mulheres, os homens foram impedidos de sair do país. Como afirma Leonor Beleza, a fuga das mulheres e das crianças gera alterações nas responsabilidades de cada um, homem e mulher, e agrava a repartição de tarefas, recuperando o que acontecia no passado. Mas nem todos os conflitos têm essa característica e os efeitos após a guerra podem ser muito diferentes.

A Segunda Guerra Mundial marcou um grande salto nos direitos das mulheres nos Estados Unidos. Sem o conflito no seu território, mas com a mobilização dos homens, as mulheres foram chamadas das suas casas para assumirem as profissões que eram consideradas masculinas. O famoso cartaz "We can do it", com uma mulher, Rosie the Riveter, de fato-macaco azul num fundo amarelo, transformou-se num ícone de igualdade entre homens e mulheres.

Foi assim também na década de 60 do século XX em Portugal, anos marcados pela guerra colonial e pela emigração, como também recordou Leonor Beleza, na conversa com a SÁBADO, a mais poderosa das gestoras portuguesas. É nessa altura que as mulheres começam a deixar as suas casas para trabalharem. Depois de aberta a porta é difícil fechar-se.

Mas para as mulheres ucranianas, estes são tempos de retrocesso na sua caminhada pela igualdade, amplificando-se nelas um problema que foi sentido por todo o mundo nos últimos dois anos de pandemia, com confinamentos. De acordo com as Nações Unidas (Women UN), 40% das mulheres empregadas trabalhavam nos setores mais afetados pela pandemia. Reforçou-se igualmente o peso das tarefas domésticas e, mais grave, uma acentuada subida da violência doméstica e feminicídios, de acordo também com os retratos que têm sido realizados quer pelas Nações Unidas quer pela Organização Mundial de Saúde.

Os conflitos armados acabam por expor a fragilidade das conquistas por um espaço de igualdade de género que os tempos de paz fazem esquecer. Em Portugal, contudo. do caminho que já se fez. há decisões que continuam a expor enviesamentos tons cientes ou inconscientes. O novo Governo de António Costa é o primeiro a ter mais mulheres ministras do que homens: em 17 governantes, nove são mulheres. Mas quando se chegou aos secretários de Estado tudo mudou: há 12 mulheres e 26 homens.

Menos exposição, mais autocrítica

Na conversa que teve com a SÁBADO como a mais poderosa das gestoras, Leonor Beleza mostrou-se convencida de que não foi fácil a António Costa construir uma equipa de governo paritária. Esforço que acabou depois por não ser feito quando se escolheram os secretários de Estado.

Porque é preciso fazer esse esforço? As mulheres são, em geral, menos visíveis, expõem-se menos, aparentemente por terem um elevado nível de autocrítica, estarem afundadas em compromissos familiares ou ainda por preferirem a sombra, Sheryl Sandberg, administradora do Facebook, e autora do livro Faça Acontecer (Lean in no título em inglês), partilhou em 2013 o seu desconforto por fazer parte da lista de mulheres poderosas da Forbes. "Em vez de me sentir poderosa, senti-me envergonhada e exposta", disse, espelhando essa atitude de ficar nos bastidores que é apontada às mulheres.

Será essa falta de exposição que explica o esquecimento a que as mulheres foram votadas quando o parlamento, nomeadamente PS e PSD, escolheu quem ia para o Conselho de Estado? Não é a primeira vez, como Susana Peralta explicou num artigo no Público. Mas aconteceu sem que as mulheres no parlamento tivessem feito ouvir a sua voz e apesar da avaliação dos efeitos de género a que até a proposta de Orçamento do Estado está sujeita.

Esta segunda edição da SÁBADO sobre as mulheres líderes e poderosas em domínios que vão da economia à política, passando pela cultura e pelo desporto — esperando que nenhuma se sinta envergonhada e exposta como Sandberg no seu passado —, mostra que não é por falta de competência que se falha na igualdade. E num tempo de guerra em que as mulheres ucranianas são desafiadas.

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I00 MULHERES + INFLUENTES: EDUCAÇÃO

Isabel Capeloa Gil
Reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP)

A sua terra natal é ilhavo, mas foi criada em Macau até aos 16 anos porque o pai pertencia à Marinha. Da mãe herdou a personalidade forte; do pai o lado irrequieto. Além da vocação para Matemática e Física, aprecia Literatura e fala várias línguas. Foi nomeada reitora da UCP em 2016 e em 2021 tornou-se a primeira mulher agraciada pelo Institut Catholique de Paris. Em setembro de 2021, inaugurou a Faculdade de Medicina da UCP. Tem 56 anos e mais de 150 artigos publicados.

Nota: Pode ler o artigo na íntegra na edição impressa da Revista Sábado de 5 de maio de 2022.

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