José Miguel Sardica: "Macron: depois dele, o dilúvio?"
As eleições presidenciais francesas decidem-se no próximo domingo. Costuma dizer-se que os franceses votam com o coração na 1.ª volta e com a razão na 2.ª volta. Se assim for, a prudência do voto útil ditará a vitória de Emmanuel Macron, que se tornará o quarto presidente da V República a conseguir a reeleição.
Tal como há cinco anos, Macron e Le Pen passaram à 2.ª volta, então com 24,01% e 21,30%, agora com 27,8% e 23,1%. Na 2.ª volta de 2017, Macron teve 66,10% e Le Pen 33,90%. A diferença em 2022 será com certeza menor – tão menor que as sondagens antecipam 52% vs. 48%. Ou seja: a vitória de Macron será expectável; mas a derrota não é impossível.
As chaves do Palácio do Eliseu estão nas mãos dos 7,7 milhões de eleitores de Jean-Luc Mélenchon, o candidato da esquerda radical. Muitos desses votantes irão para a abstenção; outros aceitarão votar no presidente “dos ricos”; e outros ainda, por serem eleitores de protesto, agastados com a crise, transferirão a cruzinha no boletim diretamente para Le Pen. Eis o problema – um de muitos. Quero crer que, mesmo assim, Marine Le Pen não será a presidente de França.
Apesar de se ter moderado (o surgimento de Éric Zemmour, na extrema-direita, ajudou a isso), renunciando (para já?) ao “Frexit”, reduzindo a sua islamofobia, mascarando a sua xenofobia e aceitando a colaboração da França na NATO, Le Pen seria sempre uma presidente populista, uma Nigel Farage continental, adepta de um “France d’abord” nacionalista, reticente à cooperação europeia e transatlântica (tão necessária hoje), perigosamente amiga de Putin e de outros “iliberais”, errática na política, justiceira na sociedade, caótica na economia.
Artigo completo disponível na Rádio Renascença.
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