Filipe Santos: "As cripto-túlipas e a loucura das multidões"

As bitcoins não dependem de nenhuma instituição e fogem aos radares de escrutínio dos bancos centrais. Encontraram uma utilização intrínseca base como pagamento de transações ilegais na darkweb, ganhando um mercado que foi crescendo com a popularidade da moeda.

A história económica mundial é pautada por momentos caricatos. Um dos mais interessantes é a bolha especulativa de bolbos de túlipa na Holanda do séc. XVII. Num período de poucos anos, entre 1633 e 1637, o preço de um bolbo de túlipa subiu centenas de vezes a ponto de valer em início de 1637 tanto como 10 anos de trabalho de um artesão, o equivalente a quase 50.000 euros aos preços de hoje, criando um mercado de túlipas que valia centenas de milhões.

Como é possível um bolbo de túlipa, que não tem valor intrínseco, exceto permitir florir uma túlipa no futuro, ascender a tais valores? O que é visto como loucura à distância parecia racional para os agentes económicos naquele contexto específico. As túlipas foram introduzidas no final do século XVI na Europa, e rapidamente se tornaram um símbolo de status e um produto de luxo.

A Holanda era o país mais rico do mundo nesta época e era também o mais avançando do ponto de vista comercial e financeiro. Inovações financeiras permitiram transacionar contratos promessa de compra e venda de bolbos de túlipa no futuro e inovações agrícolas permitiram cultivar diferentes tipos de túlipas e de cores, criando uma hierarquia de qualidade das túlipas.

Por outro lado, os bolbos de túlipa demoram anos a florir, criando escassez de oferta. Esta combinação de elementos criou um mercado no qual as túlipas começaram a valorizar mês após mês, desligado do valor de uso da túlipa. Uma vez esta referência desaparecida, não havia limite. Os preços começaram a subir e quanto mais subiam mais compradores entraram no mercado realizando lucros milionários (muitas vezes sem transacionar qualquer túlipa real, apenas contratos de compra futura de túlipas).

Um dia, em fevereiro de 1637, o mercado colapsou e os preços caíram mais de 500 vezes (embora tenha continuado a haver cultivo de túlipas e a Holanda ainda hoje seja conhecida como o país das túlipas). Esta história, que hoje nos parece ridícula, como é óbvio não poderia acontecer na atualidade, com todo o conhecimento económico que temos, ou poderia? Quem compraria bolbos de túlipa por 50.000 euros?

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