Por um novo Humanismo

Mensagem do Dia da Universidade Católica 2022

Na transformação voraz de estruturas e mentalidades, agravada pelos desafios da pandemia, que o século XXI trouxe, renovar e atualizar os valores do humanismo face à nossa realidade complexa constitui uma obrigação. Para tal é necessária uma religação ao sentido original do Humanismo enquanto prática, configurada em duas linhas matriciais: a da formação e ação do bom cidadão e a educação integral. Recolocar o Humanismo como orientação para a experiência vivida da humanidade significa não apenas colocar a dignidade da pessoa como matriz da ação individual e coletiva, mas ter consciência da variedade da sua expressão à escala global e dos seus desafios.

Assim, redescobrir os sentidos do humano face à contemporaneidade implica um entendimento dos valores do Humanismo como prática situada, que incorpore a revelação bíblica e o modelo clássico do humanismo estético-filosófico, mas que igualmente assegure um diálogo com a reflexão que culturas distintas propõem sobre a pessoa, como salientou o Papa na mensagem ao Conselho Pontifício para a Cultura (23-11-2021). O novo Humanismo salienta a centralidade da pessoa sem a reduzir a um essencialismo individualista, exerce-se numa cultura de diálogo cultural, na relação com o planeta como nossa casa comum, na proposta de uma cultura do acolhimento dos mais frágeis, de uma economia com crescimento solidário, de sociedades que garantam a igualdade de todos perante a lei, que defendam os valores da democracia

Este humanismo solidário vincula a fé à missão de esclarecimento que é própria da universidade. A necessidade de crer fundamenta a vontade de saber, como escreveu a doutora Honoris Causa pela UCP Julia Kristeva. A universidade é o espaço instrumental de um projeto de educação integral da pessoa. Este deve articular espaços de tensão: integrando o rigor da exploração científica com a sensibilidade transversal para propostas de conhecimento oriundas de quadros disciplinares distintos; articulando a rapidez e a flexibilidade para inovar com o tempo lento da reflexão; estabelecendo pontes entre a ciência de laboratório e o laboratório vivo da nossa casa comum; afirmando a liberdade criativa e de investigação sem descurar a realidade da revelação. E sobretudo numa universidade católica a proposta de um novo Humanismo exige afirmar o conhecimento produzido como serviço à humanidade na sua relação diversa com o mundo.

Instituição humanista de lastro global, em constante diálogo com a realidade contemporânea, a Universidade Católica Portuguesa assume o propósito de contribuir, com a própria ação científica e formativa, para um novo Humanismo, vertido no desenvolvimento de uma sociedade mais inclusiva e solidária, ambientalmente sustentável, centrada na defesa intransigente da dignidade humana, e assim também mais conhecedora e competitiva para lidar com os enormes desafios deste milénio.