Património e Igreja: A teologia dos lugares
“O património não é apenas olhar para o passado, é também o que desafia o nosso presente e talvez deva inspirar,” destacou Alexandre Palma, professor associado da Universidade Católica Portuguesa e bispo auxiliar de Lisboa, no Science Café “Keep the Church in the Village. How to Make Use of Heritage?”, no dia 4 de setembro.
O debate centrou-se na religião e no património, "uma das pedras basilares desta aliança T4EU", como salientou Gregor Taul, historiador de arte e semioticista da Estonian Academy of Arts (EKA), e reuniu especialistas e estudantes de toda a Europa, tanto presencialmente como online.
Organizada pela EKA, durante o festival Station Narva, esta palestra promovida pela Transform4Europe explorou uma questão particularmente importante, pois "o património está ligado à identidade, mas também à democracia e ao Estado de direito", explicou Gregor Taul.
Brigitta Davidjants, musicóloga e jornalista da Estonian Academy of Music and Theatre, e Marko Uibu, professor associado de Inovação Social na University of Tartu, também foram oradores convidados neste evento destinado a definir o que distingue o património.
"A memória não física é um ingrediente que eu colocaria na panela. Outro ingrediente que eu apontaria são as relações. Existe um vínculo relacional entre os indivíduos e as comunidades em relação a algo", explicou Alexandre Palma.
Brigitta Davidjants acrescentou outro elemento a essa definição, incluindo a esfera intelectual. “Para mim, sempre foi algo intelectual sobre valores, pensamentos, artefactos e cultura compartilhados por um grupo de pessoas.”
Marko Uibu concluiu com o último componente: o simbólico. “A principal dimensão é simbólica.” “Trata-se de significados e valores coletivos.” E, nesse sentido, é um processo simbólico muito social.
Em relação à igreja, Alexandre Palma lembra como “a teoria da secularização previu uma erosão inevitável da religião na esfera pública”, com a igreja “perdendo gradualmente qualquer relevância”.
Mas, da perspectiva do teólogo, o contrário aconteceu. “A religião persiste e resiste.” Em vez de desaparecer, “está a passar por uma transformação das suas formas de presença, relevância e expressão”.
Para Marko Uibu, este é um tema particularmente interessante, uma vez que na Estónia, "famosa por ser muito indiferente ou não religiosa", "uma instituição que não desempenha um papel realmente importante na vida quotidiana das pessoas tem, na verdade, por vezes, um papel cerimonial ou simbólico".
"É interessante observar estas dinâmicas e, obviamente, a forma como percebemos o que é o centro e o que é a periferia." "É uma questão de significados e também de poder", acrescenta o professor.
Alexandre Palma também acredita que existe "o risco de avaliar a religião com base em critérios antiquados", ignorando novas formas de religião.
Segundo o investigador, "os edifícios e o património e, obviamente, as comunidades que os produziram e os valorizaram mostram que existe um certo grau de plasticidade" na religião.
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