Doutoramento Honoris Causa: “Angela Merkel foi a mulher certa para as circunstâncias”
A Universidade Católica Portuguesa atribuiu o grau de Doutora Honoris Causa a Chanceler da República Federal da Alemanha entre 2005 e 2021, Angela Merkel, numa cerimónia em Lisboa, que contou com a presença de várias personalidades e convidados, entre os quais o ministro Adjunto e da Reforma do Estado, Gonçalo Matias; o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas; o antigo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso e o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, entre outros.
No discurso de abertura, e referindo-se a Angela Merkel como “personalidade incontornável da história do século XXI”, a reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, destacou o papel da chanceler emérita “durante 16 anos numa vida de serviço à causa pública e ao bem comum”.
“É por isso este o tempo certo para homenagear Angela Merkel, reconhecer a grandeza da sua ação, o futuro que nos legou, a particularidade da sua liderança que decorre também do tempo específico da experiência das mulheres, e que num universo político ainda hegemonicamente masculino constitui uma inspiração para as gerações futuras. Homenageamos uma liderança fundada em valores, livre e sem medo”, explicou Isabel Capeloa Gil. Sublinhou ainda que a atribuição deste doutoramento Honoris Causa celebra também “as profundas relações académicas que unem Portugal e a Alemanha, no Direito, na Ciência, nas Humanidades, as relações económicas e políticas. Um passado longo e um futuro que, sabemos, será ainda maior”.
A Reitora considerou que “num tempo sempre incerto, Angela Merkel foi a mulher certa para as circunstâncias”, apontando a importância da sua ação na União Europeia entre 2005 e 2021, na gestão da crise da dívida soberana e da crise dos refugiados, mas também durante a pandemia ou perante a ameaça russa na Ucrânia, defendendo sempre os valores do humanismo europeu e a liberdade.
Também o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, padrinho da doutoranda e responsável pela Laudatio, partilhou elogios a Angela Merkel, afirmando que a atribuição deste doutoramento Honoris Causa é “um gesto dos mais relevantes da Universidade Católica Portuguesa”.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, Angela Merkel “preferiu sempre que pôde, na sua vida, a linha reta às curvas, mesmo que elas parecessem atingir a mesma meta final e juntar à frieza de ferro da razão, a compaixão nascida de raízes e de memórias que nunca esqueceu. Preferiu sempre a convicção filosófica e religiosa aos mais importantes valores políticos, económicos, sociais, culturais e, por maioria de razão, as conveniências estratégicas ou táticas”.
O Presidente valorizou ainda as decisões no pós-pandemia, que permitiram a elaboração dos Planos de Recuperação e Resiliência e a sua “irremovível posição sobre migrações, contra partido, governo, países, europa e mundo, já presas da vaga tentadora, egoísta e, nalguns excessos, farisaica, mas popularmente muito atrativa e alegadamente piedosa, vaga que sobe e subirá até que os seus feiticeiros sejam vítimas dos seus feitiços”.
Após a imposição das insígnias e a entrega do Doutoramento Honoris Causa, Angela Merkel agradeceu à Universidade Católica, afirmando: “É para mim uma honra muito especial poder receber esta distinção precisamente aqui, numa universidade com estudantes provenientes de 113 nacionalidades, uma universidade que se compromete com valores como a dignidade da pessoa humana, a democracia, o Estado de Direito e a liberdade.”
A chanceler emérita alemã evocou os períodos sombrios da história da Europa, referindo-se ao regime autoritário da antiga Alemanha de Leste. Sublinhou ainda a importância da liberdade e da democracia, afirmando que a reunificação alemã foi, à época, vivida como “um milagre”.
Durante a intervenção, Merkel refletiu sobre os desafios atuais enfrentados pela Europa, em particular a crise migratória e o crescimento de movimentos populistas e partilhou a sua visão sobre o papel da política e a responsabilidade das novas gerações. Sublinhou que a participação cívica é essencial para preservar as conquistas democráticas e que a liberdade não pode ser dada como garantida, sendo necessário defendê-la diariamente.
A chanceler emérita acrescentou: “A verdadeira liberdade não é apenas liberdade de algo, mas manifesta-se na responsabilidade por algo: pelo próximo, pela comunidade, pelo nosso bem comum”, e reiterou: “A liberdade é para todos. A política não vale nada se os cidadãos não participarem.”
A cerimónia terminou com a intervenção do Magno Chanceler da Universidade Católica e Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério que, dirigindo-se a Angela Merkel, enalteceu “o mérito de quem, com coragem e sabedoria, tem contribuído para a edificação de uma sociedade mais justa e pacífica.”
“Pautada por nobres valores da tradição cristã, a homenageada soube, com perícia e profundidade, ser construtora de pontes e promotora de humanismo. Num tempo em que tantos parecem apostar no ruído das armas e no poder da força, esta cerimónia é um sinal luminoso: proclama que o saber e a dignidade humana ainda têm a última palavra”, concluiu.