Dia Mundial da Alimentação: “no futuro da alimentação pode estar tudo”, dos vegetais aos insetos
Uma alternativa vegetal ao ovo da galinha, o NotEggo é a criação de Beatriz Costa, Ema Camacho e Lígia Cruz, estudantes da Católica. Já as MealBalls, almôndegas vegetais “com incorporação de cerca de 25% de insetos”, foram desenvolvidas por André Roseiro, António Pedro Sousa, Beatriz Maria Gonçalves, Fernanda Barros e Sónia Marques. O Programa Comendador Arménio Miranda premiou as almôndegas de inseto com o primeiro lugar e o ovo vegetal com o segundo prémio. Já a Ecotrophelia Portugal atribuiu o segundo prémio ao NotEggo e o terceiro ao MealBalls.
As ideias nasceram no âmbito de “desenvolvimento de novos produtos”, disciplina lecionada por Conceição Hogg na Escola Superior de Biotecnologia (ESB), onde os alunos “são desafiados a pensar num produto que faz falta no mercado, e depois têm esse trabalho de desenvolver o conceito do produto, a formulação, o processo de produção, escolher a embalagem, e identificar o preço”, explica a docente.
Beatriz e as colegas definiram como objetivo “recriar um ovo estrelado”, e garantir que se pudesse “rebentar a gema”. Deram-lhe o nome NotEggo, que parte das palavras ovo – egg – e ego. Com isto, a equipa “pretende alertar para a consciencialização e para o desprendimento do ego, que é importante, e que está todo em volta deste assunto da sustentabilidade,” explica Ema.
Já a equipa de André optou pela farinha de insetos, por ser uma “produção mais sustentável do que a de carne”. E frisa: “o nosso projeto tinha de ser ecoinovador, pensámos porque não incluir a proteína de outra fonte sem ser vegetal, ou da dita carne convencional?”
Foi assim que surgiram as MealBalls, mas não foi fácil, “porque o inseto tem um sabor característico”, e a equipa queria “criar um produto nutricionalmente bom, mas igualmente agradável ao paladar de todos os clientes.”
Para levar os projetos avante contaram com o apoio da “professora Margarida e da professora Conceição Hogg”. Também as cadeiras do Mestrado em Engenharia Alimentar contribuíram para a criação pois “todas tinham uma parte prática”, diz André. Ema partilha desta opinião, destacando a possibilidade de “experimentarem como é que se fazem as coisas.”
A docente concorda e, entre risos, explica que na UCP “engenharia alimentar sempre foi um curso que obriga a meter a mão na massa, porque não se ensina a desenvolver produtos, desenvolvem-se produtos.” Orgulhosa dos seus estudantes, partilha: “eles desenvolvem um produto alimentar e eu desenvolvo um engenheiro alimentar. O meu produto são os alunos.”
Para além de contarem com o apoio da docente, os estudantes usufruem das instalações especializadas da escola: o Kitchen Lab, “uma cozinha experimental”, o laboratório de análise sensorial, e o laboratório de embalagem. É por isso que desde 2017, os estudantes da ESB têm concorrido a competições do setor agroalimentar como a Ecotrophelia com produtos que juntam sustentabilidade e inovação. E apesar de o lançamento no mercado não ser fácil, “é importante surgirem estas novas opções num mundo que parece cada vez mais insustentável”, explica Ema.
Quanto ao futuro da alimentação, Beatriz diz que os problemas como a obesidade e as alterações climáticas “vão obrigar as pessoas a mudar um bocadinho o estilo de vida.” Até porque, segundo Conceição Hogg, “no futuro da alimentação pode estar tudo,” mas “em conta e medida”. Para já, André espera uma “introdução gradual” de produtos com incorporação de insetos, e acredita que isso passa pelo consumidor se dar “ao estímulo, perceber que efetivamente não é um ‘bicho de sete cabeças’.”
Por outro lado, o grupo de Lígia acredita que “o futuro são os ovos das plantas,” e espera que a “consciencialização do público” e os produtos alternativos possam “realmente vir a mudar alguma coisa, para melhor.” Num aspeto todos concordam: “o futuro da alimentação passa pela escolha equilibrada dos alimentos a consumir”. Sem “cair em exageros”, completa a docente.