Dia Internacional do Riso | "O riso como mecanismo de sobrevivência?" por Joana Rato
Todos gostamos de rir, especialmente se for com muita vontade e prolongadamente como a conhecida expressão “rir em bandeiras despregadas”. As grandes questões que a ciência tem levantado é porque procuramos rir ou os processos subjacentes à produção do riso. Hoje sabemos que rir pode tornar a resposta física e emocional ao stress menos intensa. Daí que pode não ser disparatado pensar que o ato de rir pode ser mais uma ferramenta que a natureza nos forneceu como auxílio de sobrevivência. São nos momentos emocionalmente mais tensos que uma boa gargalhada nos consegue desbloquear e fazer agir.
Alguns autores sugerem que o humor é um elemento do sistema cognitivo a partir do qual se descobre que uma suposição inconsciente foi um erro. Designam-no na língua saxónica como “just-in-time spreading activation”, i.e., uma ativação que surge no momento certo. O humor acontece quando este sistema operacional detecta um erro que outras partes ignoraram. O sistema de prazer dopaminérgico do cérebro recompensa essa descoberta benéfica para a sobrevivência com uma onda de alegria. O que está documentado sobre como processamos o riso é de que existem vários caminhos cerebrais que contribuem para o riso. As regiões cerebrais normalmente envolvidas na tomada de decisão e no controlo do nosso comportamento têm de ser inibidas para facilitar o riso espontaneo. O riso também depende de circuitos emocionais que ligam as áreas responsáveis por atribuir significado e expressar emoções. São os circuitos cerebrais frontais que nos permitem interpretar o significado literal da linguagem num contexto social e isso ajuda-nos a apreciar o humor subtil como a ironia e o sarcasmo.
Ainda que em volta de algum conservadorismo, há, atualmente, uma perspectiva abrangente do fenómeno do riso. É através da lente da perspectiva evolutiva que verificamos que partilhamos o riso com outros animais. A perceção de que alguma coisa saiu fora dos eixos trata-se de encontrarmos uma situação que desafia as expectativas de normalidade e isso é, desde logo, interpretado como algo curioso. Primeiro passamos pelo sentimento de incongruência decorrente de uma situação estranha. Depois, quando a preocupação naturalmente provocada pela situação atípica é superada, surge o riso como sinal de alívio. Daí que rir pode ser uma forma de mostrar aos outros que a ameaça percebida foi ultrapassada. É também por isso que rir é muitas vezes contagioso, uma vez que proporciona um momento de descompressão de fim de medo que nos une. À semelhança do choro, o riso é um mecanismo de libertação para o corpo da qual precisamos. O riso e a apreciação do humor são assim vistos como componentes vitais da função adaptativa social, emocional e cognitiva. É mais uma ferramenta ao nosso dispor para viver melhor.
Sugestão de leitura:
Caruana, F., Palagi, E., & de Waal, F. B. M. (2022). Cracking the laugh code: laughter through the lens of biology, psychology and neuroscience. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 377(1863). https://doi.org/10.1098/rstb.2022.0159