A Ciência ao Serviço do Bem Comum
Discurso do Dia da Universidade Católica Portuguesa 2019
Sua Eminência Reverendíssima, Cardeal Giuseppe Versaldi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica,
Sua Eminência Reverendíssima sr. Cardeal Patriarca de Lisboa e Magno Chanceler da Universidade Católica Portuguesa, D. Manuel Clemente,
Excelência Reverendíssima, sr. Núncio Apostólico, D. Rino Passigato,
Excelência Reverendíssima Sr. Arcebispo de Braga
Sra. Juíza Conselheira, representante do sr. Presidente do Supremos Tribunal de Justiça,
Senhor Governador do Banco de Portugal
Srs Reitores e Vice-Reitores das Universidades Portuguesas;
Sr. Comandante da Escola Naval,
Srs. Vice-Reitores da Universidade Católica Portuguesa
Sra. Administradora,
Srs. Presidentes dos Centros Regionais da UCP,
Senhores Diretores de Faculdade e centros de estudos,
Digníssimas autoridades académicas, religiosas, militares e civis,
Senhores Presidentes das Associações de Estudantes,
Senhores Presidentes das Associações de Alumni da UCP,
Ilustres Convidados,
Srs. Professores,
Novos doutores da UCP,
Caros colaboradores,
Minhas senhoras, meus senhores,
Neste dia da Universidade Católica Portuguesa, é-me particularmente grato começar por assinalar a presença nesta cerimónia, em parceria com o nosso Magno Chanceler, do sr. Cardeal Giuseppe Versaldi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica da Santa Sé e dar-lhe as boas-vindas. É um enorme privilégio contar com a presença de Sua Eminência, sr. Cardeal, a terceira visita de um Cardeal Prefeito da Congregação para a Educação Católica à UCP, após o Cardeal Gabriel-Marie Garrone, que inaugurou as atividades da UCP, em Braga, em 1967, e o Cardeal Zenon Grocholewski, que esteve presente na Conferência internacional da FIUC, realizada em Lisboa, em 2007. Sendo a UCP uma instituição canonicamente ereta ao abrigo da Concordata entre a Santa Sé e o Estado português e por este reconhecida como instituição universitária livre, autónoma e de utilidade pública (Dec. Lei nº 128/90 de 17 de abril), torna-se particularmente importante sublinhar que, por natureza e missão, está comprometida com um modelo de investigação e ensino livres, de qualidade, contribuindo para o avanço do conhecimento. O que quer dizer, comprometido com a defesa da dignidade humana, atento à sustentabilidade da casa comum e formando mulheres e homens capazes de contribuir para sociedades fortes, criativas, democráticas e inclusivas.
A nossa missão resume-se afinal a uma pequena fórmula, de enorme significado: cultivar a ciência ao serviço do bem comum. Os desafios, como o sabemos, são imensos, quer na missão – tão só ‘a de melhorar a condição humana’ e capacitar a sociedade; quer na escala – porque, apesar dos construtores de muros, vivemos num mundo onde os problemas e as questões que se colocam ao desenvolvimento das sociedades estão inevitavelmente imbricados numa lógica global. Sem hesitação, os desafios colocam-se também na modulação ética– porque a ciência não é asséptica nem neutra e a ética não é suplemento, mas acompanha qualquer processo de produção de conhecimento; e ainda na escala do investimento – porque a consciência da complexidade dos problemas e a sua dimensão exigem de forma crescente modelos colaborativos, agregando não só massa crítica, mas também fundos. A fronteira da inovação científica transformadora faz-se agora no plano de Big Science ou Very Big Science, de que são exemplo o projeto internacional de Grafeno, o projeto Cérebro Humano, da União Europeia; o projeto de Tecnologia Quântica sediado na República Federal da Alemanha, ou o projeto do Genoma Humano, que envolveu centenas de cientistas em 20 universidades, distribuídas pela China, França, Alemanha, EUA, Reino Unido e Japão. Como disse, Lawrence Lowell, Presidente da Universidade de Harvard nos anos 20, ‘ of the needs of a university, there is indeed no end.’
Com coligações que juntam áreas que vão das biociências à inteligência artificial, da física às ciências espaciais, sem descurar – nunca - as ciências sociais e as humanidades, sabemos que o futuro será decidido pelos países e instituições que souberem abraçar a corrida às novas fronteiras da ciência e atrair o talento necessário para resolver as grandes questões, que são da humanidade e do planeta. É verdadeiramente determinante que neste admirável mundo novo, saibamos evitar a apatia do seguidismo científico da moda. Não seremos os novos sonâmbulos, para utilizar a expressão do historiador Christopher Clark, ao referir-se à incapacidade dos políticos que há 100 anos não conseguiram evitar a catástrofe da Grande Guerra.
Mas para evitar um sonambulismo estratégico, colocam-se a uma universidade católica centrada no cultivo da ciência e na contribuição para o bem comum exigências acrescidas. Tal acontece, desde logo, porque na sociedade do conhecimento caracterizada por um exponencial crescimento em quantidade, qualidade e abrangência dos instrumentos de produção científica, o acesso ao saber não pode ser capturado por estratégias de poder, que se refletem na forma como as instituições agem, como condicionam o comportamento das pessoas e afetam o ambiente. É este o paradigma tecnocrático que o Papa Francisco tão veemente rejeita, na encíclica Laudato si'. Se a ciência constitui um poderoso meio para aliviar as dificuldades da condição humana, desenvolvendo tecnologias que melhoram a qualidade de vida, permitem criar resiliência aos perigos naturais, e agilizam a comunicação, o certo é que o que se convencionou chamar de ‘ciência moderna’ se desenvolveu com base num ‘paradigma homogéneo e unidimensional’ que não propiciava uma relação com a realidade baseada na compreensão, mas sim na manipulação. O paradigma de desenvolvimento da ciência normal ao ter-se feito crescentemente por separação e especialização contribuiu para a erosão do diálogo interdisciplinar e distanciamento entre as necessidades da sociedade e a lógica da investigação laboratorial. Nas palavras do nosso Pontífice, exige-se, por isso, ampliar o diálogo e promover “ [...]um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático.” Exigese religar o saber com a sabedoria e potenciar modelos integradores que promovam um progresso responsável.
Porque os grandes problemas da sociedade, da preservação da nossa casa comum, cuja riqueza nos foi dado gerir, não se podem resolver à sombra dos muros disciplinares, mas reclamam respostas robustas e holísticas, urge num novo paradigma de convergência cultivar a ciência numa ecologia integral, o que tem vindo a ser assumido de forma crescente pela comunidade científica. Historiadores da ciência, como John Watson, na obra Convergence. The idea at the heart of science (2016) tem vindo a afirmar que “A convergência e a emergência de uma ordem comum – ou mesmo uma espécie de unidade - entre as ciências constitui um dos mais importantes e satisfatórios elementos do conhecimento científico, tanto mais convincente, quanto não fazia parte de nenhum projeto pré-determinado’ (Watson, 2016: xxvii).
E desta convergência faz necessariamente parte o cultivo de uma verdadeira e profícua transdisciplinaridade, que não se gere apenas nas sintomáticas articulações entre a biologia molecular e a química, ou entre a física e as ciências biomédicas, mas de forma mais radical entre as linguagens situadas nos limites daquele fosso que nos anos 50 C.P.Snow designou como as duas culturas, de forma lata, a das humanidades e das ciências. Ora no paradigma de um ecologia integral dos saberes, este fosso deve ser preenchido. Para tal, contribui a re-codificação dos termos ‘investigação’ e ‘conhecimento’, que, tal como defende o Relatório Nurse (Paul Nurse - 2015), devem ser entendidos na sua íntima ligação com a raiz latina da palavra ciência, scientia, designando uma forma lata de produção de conhecimento que inclui todas as disciplinas académicas, da medicina à sociologia, da análise literária à química, da matemática à teologia.
Do mesmo modo, a pequena grande questão da utilidade em ciência tem servido ao longo dos tempos para de forma trágica dar substância a uma mentalidade tecnocrática, positivista e árida, que se reflete em políticas de ciência, opções de financiamento, decisões institucionais. O que é útil é o que emprega, o que é útil é o que potencia o acesso a financiamentos ambiciosos. O que é útil não é o que é bom, singular, mas o que torna mais eficiente. E não se trata de uma discussão recente. Presidente da Universidade de Chicago durante 22 anos, o pedagogo Robert Maynard Hutchins escreveu na obra The University of Utopia (1953), que “O objetivo do sistema educativo no seu todo não é produzir braços para a indústria ou ensinar aos mais novos como ganhar a vida. É o de criar cidadãos responsáveis.” Sem descurar a responsabilidade da universidade face à capacitação profissional, sem descurar a necessária sustentabilidade das instituições, a utilidade funcional não pode ser a narrativa de missão da universidade. Por definição, abrimos horizontes, devemos ser mais do que as nossas circunstâncias.
A história de Ernest Shackleton, explorador polar que liderou 3 expedições à Antártida, é porventura exemplar desta visão de uma universidade como projeto e potencialidade. Mal preparada, a sua terceira expedição denominada ‘Expedição Imperial Trans-antártica” em 1914, não estava à altura dos desafios que ia encontrar. A guarnição do navio/ equipa de exploração não sabia fazer esqui, os cães, comprados no Canadá, não estavam preparados para puxar trenós, mas apesar dos contratempos, a equipa estava unida na vontade de explorar o continente desconhecido e fazer avançar o conhecimento. Quando o navio Endurance ficou bloqueado no gelo, tornou-se necessário ir, por terra, buscar ajuda. Partiu assim um pequeno grupo, deixando os restantes náufragos à sua mercê, aguardando durante meses, que se transformaram em anos. Quando o navio começou a ceder e a quebrar-se, tornou-se necessário aliviar a carga. Face às contingências, Shackleton decidiu desfazer-se de todos os instrumentos de investigação a bordo, mas manteve os instrumentos musicais. Deixou o ouro, mas exigiu o banjo que considerou ‘um medicamento mental vital.’ Era necessário manter a vontade de sobreviver da equipa durante os dois anos em que esperaram o resgate. A resiliência à dureza do ambiente e à solidão foi construída através da arte, da música, da leitura, do desenho, numa efetiva demonstração da utilidade última da apreciação estética para a vida. E sobretudo, numa situação de grande incerteza, Shackleton teve a visão do verdadeiro líder de conhecimento que se soube adaptar às circunstâncias e agir além delas.
Orientando-nos por um cultivo da ciência como potentia e não mero instrumento, como estratégia convergente e flexível, afinal da ciência como sabedoria, é nossa missão enquanto investigadores defender com afinco uma visão para a universidade como espaço onde de forma integral se ultrapassam os muros disciplinares, as barreiras do utilitarismo e se assume o objetivo último de trabalhar para que a humanidade e a nossa casa comum possam viver num mundo melhor.
Na UCP, agimos em consonância com esta visão. Em 2017, a Reitoria lançou às Faculdades o desafio da transformação, solicitando o desenvolvimento de projetos mobilizadores, inspirados numa lógica de inovação, colaboração (interdisciplinar, interunidades, internacional) e de criação específica de valor. Os projetos, de pendor académico, científico ou desenvolvimento organizacional e infraestrutural, integram-se na linha das 4 iniciativas estratégicas do mandato: Católica 4.0; Católica Inovação e Investigação; Católica Talentos e Campus Cultura.
Assim, no âmbito da inovação académica e curricular, a universidade reforçou o modelo das duplas licenciaturas, desenvolvidas no Porto pelas Faculdades de Gestão, Direito, Educação e Psicologia e pela Escola Superior de Biotecnologia. Propõe-se assim em 2018 duas novas duplas-licenciaturas, a saber a Lic. em Direito e Psicologia e a Licenciatura em Gestão e Bioengenharia. Em Lisboa, foi criada em julho a Faculdade de Medicina da Universidade Católica e fez-se a subsequente submissão do pedido de acreditação do Mestrado Integrado em Medicina à Agência Nacional de Acreditação do Ensino Superior. Na área de saúde está, aliás, em curso uma reestruturação organizacional, na sequência da criação da Faculdade de Medicina.
Mas inovar é também acompanhar as transformações comportamentais dos nossos públicos, mormente das novas gerações de estudantes, cujo habitus se caracteriza pela mediação de uma comunicação de base tecnológica imediatista, que torna urgente uma adaptação estratégica dos modelos e metodologias de ensino. O desenvolvimento de pilotos de digital-based learning, que constitui uma nova dimensão mais intuitiva e dinâmica de anteriores processos de e-learning e b-learning, decorre já na CLSBE, estando igualmente a ser projetado para a nova Faculdade de Medicina e as plataformas utilizadas a serem reavaliadas na CPBS ou na FCH.
No que a transformação em I&D diz respeito, foi criado em 2018 o novo centro de Investigação em Psicologia e Ciências da Família, CRC-W – Research Centre for Psychological. Social and Family Well Being e está em curso a criação de uma nova unidade de investigação biomédica de ponta, o Católica Institute on Ageing. E porque nada se faz sem garantia de financiamento, a captação de financiamento competitivo (público e privado) para investigação tem vindo a crescer de forma sustentável, constituindo em 2018 cerca de 12% dos rendimentos da universidade, com um crescimento de 2% face a 2017. Por sua vez, é também de assinalar o incremento em emprego científico. O início do projeto Alchemy, na Escola Superior de Biotecnologia, em parceria com a empresa norte-americana Amyris, veio permitir a contratação de 60 novos investigadores. No âmbito do Concurso ao Estímulo de Emprego Científico da FCT, a UCP abriu 22 novos lugares de investigação e docência, distribuídos pelas 15 unidades de investigação. De assinalar, igualmente, os variados prémios e distinções atribuídos ao longo de 2018 a professores e investigadores da UCP, num total de 34, das Artes a Biomedicina, de Economia a Ciências da Comunicação. Permito-me destacar dois prémios de natureza muito diversa. O prémio do Conselho de Prevenção de Corrupção – Ciência 2018, que agraciou o estudo de Miguel e Carla Pais Vieira, investigadores do ICS, no Porto, pelo trabalho “Prevenção da corrupção e infrações conexas associadas à utilização das interfaces cérebro-máquina”. E o Prémio de gestão do Expresso e Banco Santander, Primus Inter Pares 2018, atribuído ao Mestre em Gestão pela CLSBE João Ramadas. Pelo seu 50º aniversário, a UCP foi ainda condecorada pela Presidência da República, com a Ordem de Mérito da Instrução Pública; e recebeu ainda o Prémio de Mérito da Fundação Ilídio Pinho.
Justamente, porque entendemos como um dos campos estratégicos para a transformação integrada da universidade, o desenvolvimento de projetos de interface tecnológico, porque um dos grandes desafios da ciência se coloca justamente na gestão do diálogo entre o humano e a inteligência artificial que se plasma na transformação crescente dos modelos sociais de coesão, afetando políticas que vão da educação à saúde, passando pela economia, ou a gestão do território, e na afirmação cada vez mais evidente da sociedade do algoritmo, que Frank Pasquale chama black box society, está a UCP a desenvolver um conjunto de iniciativas integradas sobre esta matéria. Alargamse da estrutura - com a integração de sistemas em curso, o processo de transformação digital e a consolidação da gestão integradas de recursos – à investigação e transferência de conhecimento. Cito a título representativo das iniciativas desenvolvidas e a implementar a criação do Centre for Technological Entrepreneurship na CLSBE, patrocinado pela Fundação Lina e Patrick Drahi, o futuro Ethical Data Lab, em articulação com o Centro Regional de Braga da UCP, e bem assim a linha de investigação transdisciplinar em Direito e Inteligência artificial do Católica Research Centre for the Future of Law.
As iniciativas de inovação e transformação exigem uma materialização concreta, que se verte no investimento infraestrutural, que é por isso, também transformador. Com projetos de investigação em curso que totalizam (em acumulado e incluindo o projeto Alchemy) 51 409 milhões de euros, a UCP necessita de infraestruturas adequadas. Em fase de conclusão está, por isso, o novo edifício tecnológico para a Escola Superior de Biotecnologia, na Foz, a adequação do edifício do campus de Sintra, que alojará a Faculdade de Medicina, e em fase de concurso de ideias, o projeto para o Campus Inovação, na zona Norte da Palma de Cima.
Na palestra que ontem fez na Universidade, Sua Eminência o Cardeal Giuseppe Versaldi recordava os quatro grande critérios que o Papa Francisco considera essencial à renovação das universidades eclesiásticas e católicas, na Constituição Apostólica Veritatis Gaudium, e que aqui recordo: o recentramento do nosso labor académico e científico a partir da mensagem viva do Evangelho; a afirmação do empenhamento no diálogo cultural global; a prática assumida da inter e transdisciplinaridade; o trabalho colaborativo e em redes internacionais.
A UCP faz-se eco desta missão, orientando-se para a colaboração. Desde logo a mais difícil, a colaboração interna, entre as suas unidades académicas e áreas disciplinares. O tempo dos silos leva-nos a morrer no gelo, como aconteceria com Shackelton, que para sobreviver optou pela música em vez dos instrumentos de uma ciência sem viabilidade nas condições árticas. À nossa escala académica, a iniciativa Campus Cultura, apoiada no programa Cultura@Católica, desenvolve nos 4 campus da UCP atividades que colocam a prática artística, a apreciação estética e o desenvolvimento da análise crítica como angulares de qualquer modelo de produção de conhecimento. A exposição ‘Os olhos escutam’ que, com curadoria de Paulo Pires do Vale, hoje abre a programação da Galeria Fundação Amélia de Melo ou o programa de aulas abertas ‘Arte e Ecologia’ da Escola das Artes são justamente exemplo desta exploração comum da investigação institucional e das práticas artísticas.
Depois a colaboração externa, com universidades nacionais e internacionais, com empresas e centros tecnológicos. Integramos três laboratórios colaborativos em parceria de universidades e empresa: o CoLab DTX Digital Transformation (4 centros de I&D, CEPCEP, CUBE, CECC e CITAR); CoLab Wines and Vines, CoLab ProChild, e mais 145 outros projetos de interface universidade empresa. Participamos em 50 redes internacionais de investigação.
Destas, permito-me destacar três a título representativo. A primeira a Law Schools Global League, para cuja presidência foi eleita a Global School of Law e que integra 27 escolas de Direito a nível global, entre as quais King’s College London, Fundação Getúlio Vargas, U.Tilburg Univ., Northwestern Univ. Pritzker School of Law, Univ. Freiburg, National Univ. Singapore, McGill Faculty of Law, UCLA, IE Law School ou a Chinese Univ. of Hong Kong, entre outras. Depois o alargamento da associação da Universidade Católica Portuguesa à prestigiada rede Europaeum, pela mão do Instituto de Estudos Políticos, que integra14 universidades, a saber Oxford U., U. Leiden, Paris I, Panthéon Sorbonne, Univ. degli Studi Bologna, Complutense Madrid, Karlova Praga, Jagellonian Polónia, Univ. Helsinki, Univ. St. Andrews, LMU Munique, Pompeu Fabra, Barcelona, entre outras. Finalmente, foi assinado em 12 de outubro, na UCP, o acordo que cria a rede SACRU – Strategic Alliance of Catholic Research Universities, de escopo global e que em torno da aceleração da colaboração em I&D congrega a UCP, a Australian Catholic University, Boston College, PUC – Rio de Janeiro, PUC – Chile, Sophia University (Tóquio), Univ. Saccro Cuore, Itália e a Univ. Ramon Llul, em Espanha. Ainda na lógica da colaboração, assumimos em Julho a Presidência da Federação Internacional das Universidades Católicas, a mais antiga federação de universidades do mundo.
O futuro é pleno de oportunidades, mas não podemos descurar os riscos. Por natureza e fundação, a partir da Concordata estabelecida entre República Portuguesa e a Santa Sé, a UCP constitui um tertium genus no sistema de ensino superior em Portugal. Quarta universidade criada no país, por via de um tratado de Direito Público Internacional assinado entre o Estado português e a Santa Sé, a Universidade Católica Portuguesa cresceu como grande projeto apoiado pela sociedade civil, reconhecida pelo seu contributo distintivo de serviço ao país, à educação e à ciência. E como realidade apoiada na sociedade civil, a Universidade Católica Portuguesa tem justamente demonstrado que é possível um projeto de grande qualidade académica e científica não-estatal, regido pelos princípios de desenvolvimento que estruturam o sistema científico nacional, mas com um perfil de singularidade e inovação. Temos um fortíssimo programa de apoio social, atribuindo cerca de 3.282M em bolsas de apoio social, de mérito e prémios e apurámos no Estudo de Impacto Católica@50 que 75% dos alunos da UCP participam em atividades de voluntariado. Acautelar a especificidade institucional da UCP, instituição livre, autónoma e de utilidade pública, significa reconhecer os seus serviços passados, e o seu trabalho no presente e futuro, num sistema científico nacional onde somos e contamos com grandes parceiros, mormente todas as universidades do CRUP, mas que será forte se souber especializar- -se, acautelar a diferença e reconhecer o mérito através da avaliação de impacto, sem se refugiar em discursos populistas de homogeneização, apoiados no deep state da burocracia.
Na celebração do Dia da Universidade, gostamos também de recordar aqueles que nos deram corpo e que ao longo deste ano foram sendo agraciados pelas autoridades do país ou pela universidade: desde logo o senhor Arcebispo José Tolentino de Mendonça, Arquivista e Bibliotecário da Santa Sé, grande académico e poeta, Vice-Reitor da UCP entre 2012 e 2018, e agraciado pelo Estado português, com a Comenda da Instrução Pública, tal como o Prof. Walter Oswald, criador do Instituto de Bioética da Universidade Católica, condecorado pela Presidência da República e homenageado pela UCP e pelo Instituto de Bioética. No ano em que o Centro Regional do Porto celebra 40 anos de instituição, homenageou também a universidade, o grande fundador deste Centro Regional, o Prof. Francisco Carvalho Guerra.
Agraciado no dia 29 pelo Presidente da República, será hoje distinguido pela Universidade Católica Portuguesa com a Medalha de Ouro da nossa instituição uma figura que dedicou a vida à comunidade académica da UCP, que a evangelizou em tempos críticos, e contribuiu para moldar com densidade académica na Direção do Instituto de Direito Canónico. O Cónego João Seabra foi um icónico capelão da UCP, que como escreveu o nosso Magno Chanceler, sr D. Manuel Clemente, seu colega de seminário, na Católica ‘enchia a casa com a sua presença bem visível e audível em todos os espaços, dos corredores às salas, da capela à rua.’ Canonista insigne foi sempre na sua prática diária, na real inscrição na vida dos que com ele conviviam, que melhor ensinou os que o rodeavam. Naqueles tempos (anos 70 e 80), em Lisboa, a Católica desenvolvia-se sobretudo em torno de duas grandes áreas, Economia e Gestão, por um lado, Direito, por outro. A força do testemunho do Cónego Seabra na geração que frequentou a universidade nesses anos é assinalável. Aqui dinamizou, por exemplo, o Grupo de Ação Social da UCP (GASUC) um marco do que hoje se designa a responsabilidade social da instituição. Propondo, sem impor, foi justamente conversando, escutando, que tocou tantos e deu testemunho prático do gesto basilar do cristianismo, plasmado no encontro e diálogo com o Outro.
No Pe João Seabra encontramos a integralidade de um vastíssimo saber veiculado na simplicidade desarmante da vida, uma fidelidade rigorosa aos princípios aliada a uma lealdade inabalável aos amigos, um sarcasmo irritantemente divertido e sobretudo uma inteligência fina que lhe dá uma autoridade natural. A Universidade Católica Portuguesa agradece ao canonista, ao investigador, ao padre, o labor que nos inspirou a ser uma grande universidade e entrega-lhe hoje a Medalha de Ouro pelos relevantes serviços prestados à universidade, o que quer dizer ao país e à Igreja.
Sr. Magno Chanceler da UCP, sr. Prefeito da Congregação para a Educação Católica, caros professores, alunos, parceiros, alumni, colaboradores e amigos da UCP, assumimos o ensino como vocação, a ciência como missão, a solidariedade como parte da nossa natureza.
Com espírito global e ao serviço da causa comum da humanidade, somos universidade de futuro, mas atenta ao presente, temos ambição sem perder a 11 humildade, e queremos atender ao particular que é constituído por cada um dos membros da nossa comunidade. Aos novos doutores que hoje recebem o seu diploma dou os parabéns e faço votos de que continuem a fazer avançar as fronteiras da ciência, atentos à integralidade do saber. Recordo-vos a Ode de Ricardo Reis, que nos diz:
“Para ser grande, sê inteiro: Nada/ Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/no mínimo que fazes.”
Assim em cada lago a lua toda/Brilha, porque alta vive.” (Odes de Ricardo Reis, 1994: 148)
Bem hajam e muito obrigada!
Isabel Capeloa Gil
Reitora
1 de fevereiro de 2019