Catarina Almeida em Vazantes, Brasil

"O meu nome é Catarina Almeida tenho 23 anos e estudo Direito na Faculdade de Direito - Escola do Porto. Escolhi este voluntariado porque combinava duas coisas muito importantes para mim. Primeiramente, tinha muita vontade de participar num projeto com crianças e este permitia-me estar com meninos dos 6 aos 18 anos, o que foi um fator essencial na mina escolha. E, para além disto, sempre fui apaixonada pela cultura brasileira, portanto também quis experienciar essa realidade tão distinta da minha."


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"Passei um mês em Vazantes, uma pequena comunidade no interior do Brasil, e, apesar de ser muito difícil exprimir tudo o que sinto neste pequeno testemunho, tentarei transmitir um pouco do que aprendi. O sol nascia cedo e às 8 da manhã começavam as atividades na Fundação Fé e Alegria.

Dividíamo-nos em pequenos grupos e preparávamos diferentes oficinas para as crianças dos 6 aos 18 anos. Havia ocupações para todos os gostos: aulas de espanhol, jogos de dança, pintura, desenho, artesanato, pulseiras, manualidades e muitas brincadeiras improvisadas quando as coisas não corriam exatamente como tínhamos planeado. Desde o primeiro dia que as crianças foram muito carinhosas connosco, recebiam-nos de braços abertos e davam-nos abraços tão apertados que nos apetecia ficar no Brasil para sempre. Mas, felizmente, posso dizer que não foram só as crianças. Todo o povo de Vazantes nos acolheu como se fossemos um deles e, na verdade, todos nos sentíamos parte daquela grande família.

Como o voluntariado nos ocupava apenas as manhãs, passávamos as tardes de formas distintas. Muitos dias recebíamos aulas de Capoeira e de Maracatu (uma manifestação cultural pernambucana que apresenta origens africanas e contém elementos musicais e de dança), o que nos permitiu mergulhar na cultura brasileira e aprender muitas habilidades novas. Nas tardes livres íamos assistir aos jogos de futebol, aos ensaios da banda, conversávamos com o povo, planeávamos atividades para o dia seguinte, ou, simplesmente, brincávamos na rua com as crianças. Dávamos ainda aulas de zumba ao ar livre, onde dançávamos com as mães e com todos os que se atreviam a passar perto da praça da igreja. Depois do jantar, tínhamos uma rotina que não trocávamos por nada: sentávamo-nos no banco da rua principal a conversar com as vizinhas (vizinhas essas que se tornaram nossas amigas e que, sem elas, esta experiência não tinha sido a mesma).

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Um dos momentos que mais me marcou de toda a experiência foi quando o padre, durante a missa, nos contou que, antes, perguntavam às crianças o que gostariam de fazer quando fossem crescidas e estas respondiam que queriam ser pescadoras e agricultoras. E que, agora, depois de ter começado este voluntariado, quando lhes fazem exatamente a mesma pergunta, dizem que o seu maior sonho é serem universitárias. Esta partilha marcou-me imenso e fez-me refletir sobre os grandes impactos que podem ter pequenas ações.

Saí de Vazantes com o coração cheio: cheio de alegria, de sentimento de missão cumprida, de amigos, de gratidão e, principalmente, cheio de saudades. Foi das experiências mais marcantes da minha vida e estou muito agradecida a todas as pessoas que a tornaram possível. Mas, principalmente, ao povo de Vazantes, que me ensinou o verdadeiro significado de humildade e simplicidade, a verdadeira alegria pelas coisas pequenas e a força que tem um simples sorriso. Levo os ensinamentos desta experiência para toda a minha vida e Vazantes vai ter sempre um lugar especial no meu coração."