Padre Américo: a luz do coração, a inteligência da caridade

Confesso e acredito, eu mesmo, que, se não tiver esta Caridade, nada sou.

Padre Américo, Pão dos Pobres (2º vol. 5ª ed., 1990)

 

Américo Monteiro de Aguiar, mais conhecido como Padre Américo, nasceu no dia 23 de Outubro de 1887, em Galegos, no concelho de Penafiel e veio a morrer no Porto, em 1956. Quase um século e meio depois do seu nascimento, urge celebrar a vida e a obra de um dos homens mais extraordinários, não só da história da Igreja Católica, como também do Portugal Contemporâneo.

Padre Américo guarda em si muitíssimas vidas. Não foi apenas um devoto de Deus, um místico, um bastião de fé, um evangelizador ou homem de uma hombridade moral inabalável. Também foi um pedagogo de tantas gerações de um Portugal esquecido e marginalizado, um viajante sem medo e um peregrino exemplar, um espantoso escritor dotado de uma sensibilidade aguda e de uma fina e cáustica ironia. Foi pessoa de acção para quem nenhuma barreira era um limite inultrapassável. Um “revolucionário pacífico”, como a si mesmo se definia, que sempre instigou as consciências perante a causa dos mais pobres dos pobres.

Sempre foi incansável no seu magistério. Estudou em Penafiel e em Felgueiras, trabalhou em Moçambique, na então Lourenço Marques, tendo concluído o Seminário em Coimbra, em 1925. As experiências da “Sopa dos Pobres” e das múltiplas visitas aos presos daquela cidade, aliada à das “Colónias de Férias” que começara a organizar para os “garotos” da Baixa Coimbrã inspiraram-no a abrir, em 1940, a primeira Casa do Gaiato, em Miranda do Corvo, instituição inteiramente dedicada ao acolhimento e protecção de menores privados das suas famílias e das mais básicas condições de subsistência. Em 1944 funda O Gaiato, jornal quinzenal (ainda hoje publicado) que serve de meio à disseminação das suas ideias e projectos, acolhendo dos seus leitores as ajudas (monetárias e não só) que lhe possibilitaram o financiamento da sua obra de caridade.  Em 1951 lança a primeira pedra do “Património dos Pobres”, iniciativa que promoveu a construção de cerca de 3500 moradias em Portugal, Angola e Moçambique.

De tudo isto dará testemunho a mais recente mostra da Biblioteca do Paraíso, intitulada Padre Américo: a luz do coração, a inteligência da caridade, que pretende apresentar justamente um conjunto relevante de obras escritas pelo e sobre Padre Américo, reveladoras do seu caminho espiritual, moral e pedagógico. Falamos de títulos incontornáveis como Pão dos Pobres (em vários volumes, começados a ser editados a partir de 1942), Doutrina (1974-1980) ou ainda os escritos reunidos na Obra da Rua (1983).

Somos, assim, convidados a homenagear a obra e as obras de uma das mais grandiosas personalidades da História da Pedagogia, da Assistência Social e da Habitação no Portugal Contemporâneo. Uma vida que se confunde com a história da bondade e da caridade. Da luz e da inteligência do coração. E possamos igualmente ouvir e reconhecer estas palavras de Padre Américo no seu sentido cristão mais profundo:

“A pobreza é coisa tão santa, que ninguém lhe mexe! Hei-de fazer testamento: deixar uma Obra pobre, para servir as Classes Pobres; ligar a minha derradeira vontade aos meus continuadores que, por isso mesmo, têm de ser herdeiros da renúncia ao ouro e à prata, para bem merecerem este posto de sacrifício.”(in Doutrina, 1º vol. 2ª ed. aumentada, 1974)  

Pedro Marques Pinto
Prof. Luís Leal (revisão)

 

Cartaz Padre Américo 2024

Categorias: Bibliotecas UCP Bibliotecas - Cultura

Quinta, 31/10/2024