Dia Mundial do Médico de Família: “Cuidamos de uma pessoa dos 0 aos 100 anos”

“Sempre próximo para cuidar” é o lema deste ano, do Dia Mundial do Médico de Família, instituído pela Wonca - Organização Mundial de Médicos de Família em 2010. Um lema que o médico de família e coordenador da unidade curricular de Medicina Geral e familiar da Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, João Sequeira Carlos, diz espelhar bem o que é um médico de família.

“O sempre, que o lema refere, dá bem a noção da continuidade dos cuidados prestados. O próximo indica a proximidade com os doentes, já que os cuidados são de 1.ª linha e depois, claro, o cuidar”, refere o clínico, acrescentando que “o médico de família é um especialista em Medicina Geral e Familiar que se ocupa dos cuidados de saúde em abrangência, ao longo da vida de uma pessoa, dos 0 aos 100 anos.”

Reconhecendo o paradoxo da definição, João Sequeira Carlos explica que a Medicina Geral e Familiar apesar de generalista “é uma especialidade, porque tem um corpo próprio de conhecimento, de aptidões e intervenções focados na pessoa, enquanto um todo e que são aplicados todos os dias na consulta.”

“A dimensão clínica é a que mais nos ocupa”, refere o médico, mas “não nos demitimos das outras dimensões, como a investigação, a formação e o ensino”. E um exemplo da importância dada à formação, acrescenta “é parceria entre o Hospital da Luz e a Universidade Católica Portuguesa, para a formação pré-graduada de alunos da Faculdade de Medicina da UCP.”

“Acredito muito neste curso e por isso estou envolvido no projeto desde o início”, refere o diretor do serviço de Medicina Geral e Familiar do Hospital da Luz Lisboa.

Sobre o Mestrado Integrado em Medicina da Universidade Católica, João Sequeira Carlos salienta que o curso “surge com a inovação de colocar na agenda, de uma forma muito forte, a importância da relação com o doente, o centrar os cuidados na pessoa e não nos seus órgãos e doenças fragmentadas e olhar para cada doente como um todo.”

Uma relação que, segundo o médico, só funciona se a comunicação entre o médico e o doente for boa, permitindo desta forma esclarecer melhor, durante a consulta, “as chamadas agendas escondidas e os sintomas inespecíficos, de modo a melhor ajudar o doente.”

Médico há 24 anos, confessa que ainda se comove quando um doente lhe diz que “só por ir à consulta já se sente melhor” e sorri ao recordar o comentário de uma doente que ilustra o modo como as pessoas sentem os cuidados de proximidade – “melhor só se o senhor doutor vivesse em nossa casa.”

Mas se este tipo de comentários lhe traz a certeza de estar “na profissão certa”, confessa que a falta de médicos de família o deixa preocupado e que “apesar de não ser uma realidade apenas portuguesa, não deixa de ser grave”.

“Sempre sonhei com um sistema nacional de saúde em que os nossos doentes não tivessem que sentir a diferença de ir ao sector público, privado, social ou cooperativo e que o ir ao médico fosse sempre uma experiência privilegiada, de grande satisfação e encantamento”, conclui João sequeira Carlos.

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Quinta, 19/05/2022