ROME CALL: Católica promove carta de princípios éticos para a Inteligência Artificial

“Os desenvolvimentos patentes no âmbito da inteligência artificial afetam a forma como ensinamos, o currículo, o nosso relacionamento com os estudantes, a relação interpessoal, mas também os modelos de gestão universitária, a forma como gerimos as pessoas, como gerimos a nossa atividade”, afirmou a Reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil, na assinatura do acordo.

A ação torna-se imperativa e, para Isabel Capeloa Gil, o futuro será decidido entre os que têm capacidade de cocriar e os meros utilizadores. A Universidade Católica Portuguesa quer estar, inequivocamente, do lado da cocriação. Como tal, para a Reitora da universidade a ROME CALL é um ato, nem reativo nem prescritivo.

Essa missão tem, aliás, vindo a materializar-se no trabalho que tanto o Digital Ethics Lab como o Centro de Estudos de Investigação em Direito estão a desenvolver nestas matérias.

“Não se trata de olhar para a Inteligência Artificial como uma ameaça que deve ser hiper-regulada, que é como parar o mar com as mãos. Temos de ter uma supervisão, mas a nossa relação não deve ser nem reativa, nem prescritiva. Deve ser, entendemos nós, uma relação de cocriação”, justificou.

O acordo assinado entre a Católica e a Pontífica Academia para a Vida “é um guia e uma orientação para aquilo que será necessariamente algo que faz parte da nossa missão”, para “um futuro que queremos que seja de maior desenvolvimento para a Humanidade”, resumiu Isabel Capeloa Gil.

Também para o Arcebispo Vicenzo Paglia, presidente da Pontífica Academia para a Vida – que desenvolveu a ROME CALL – a ética deve acompanhar todo o ciclo de desenho e produção de tecnologia, desde o momento em que escolhemos em que projetos investir.

Nesta ótica, introduz a ideia de “Algorética contra Algocracia”, defendendo que a ética também tem de estar associada à criação de algoritmos. “O conceito de Algorética destaca a importância do laço entre a técnica e a ética para um desenvolvimento humano que seja digno da Humanidade”, sublinha Vicenzo Paglia, reforçando ainda que a ROME CALL pretende contribuir para “humanizar a técnica e não tecnologizar o homem”.

“Estamos num momento crucial: todos os intelectuais e instituições que entendem este tema têm de unir-se numa nova aliança para ajudar ao desenvolvimento de uma Humanidade que seja mais igual, mais justa e verdadeiramente humana”, defendeu.

A cerimónia de assinatura da carta contou também com uma palestra do professor do Instituto Superior Técnico Arlindo Oliveira, na qual apontou a importância de se pensar a ética da inteligência artificial. “Qualquer tecnologia levanta questões éticas significativas”, assumiu, exemplificando com máquina a vapor, a eletricidade ou a energia nuclear. Porém, “talvez a inteligência artificial levante mais por ser uma tecnologia tão poderosa” e porque, como tal, “levanta riscos”.

Destacou a possibilidade de utilização por pessoas ou instituições mais intencionadas, a “criação de bolhas de informação e consequente dificuldade de diálogo”, que pode levar à radicalização de posições. Mas também a “erosão da privacidade”: “Muitos destes modelos saberão melhor do que nós em quem vamos votar nas próximas eleições”, advertiu. Manipulação da informação e desinformação, discriminação e enviesamentos ou a concentração de poderes nestes sistemas foram outros dos riscos apontados pelo também investigador.

As futuras aplicações da inteligência artificial e a forma como poderão articular-se com os seres humanos “levantam questões éticas extremamente complexas”, alertou Arlindo Oliveira, lembrando que “as universidades, sobretudo as de pendor humanista, são o sítio certo para se pensar nestas questões”. “Seria interessante pensarmos antes de os problemas se colocarem em prática”.

Protagonizada por representantes da Cisco, IBM e Microsoft, também signatárias do documento, houve ainda uma mesa-redonda, moderada por William Hasselberger, director do Digital Ethics Lab.

Lara Tropa, da IBM, frisou que a tecnologia deve “estar ao serviço do ser humano. E a inteligência artificial vai estar ao serviço do ser humano para aumentar e contribuir para que a sua vida seja melhor. Vai aumentar a inteligência humana”.

Miguel Moreira, da Cisco, defendeu que “a tecnologia tem de estar disponível para toda a gente, ao mesmo nível” de modo a potenciar a inclusão. E deve olhar-se para o desenvolvimento da inteligência artificial como um processo positivo e uma responsabilidade coletiva. “Se deixarmos que a nossa inteligência artificial seja afetada por mecanismos não de bem, vamos ter um problema. Enquanto empresas, cabe-nos abraçar a ética na inteligência artificial de forma responsável e séria”.

E para Abel Aguiar, da Microsoft, “a inteligência artificial só faz sentido se for um mecanismo intrínseco de amplificação da capacidade humana”, que traz mais eficiência e capacidade de resolver problemas complexos, cabendo ao ser humano assegurar que é usada “como uma ferramenta e não como uma arma”. Inteligência Emocional, Criatividade e Juízo Moral e Ético continuarão a ser traços humanos e “não algo que as máquinas possam determinar”.

No discurso de fecho do evento, o magno chanceler da Católica, D. Rui Valério, sublinhou que “a inteligência artificial está ao serviço da ética, porque está ao serviço do princípio que o ser humano é um fim em si próprio”.

“O meu desejo é que a inteligência artificial me traga um contributo significativo para o meu progresso enquanto ser humano, que me ajude a ser mais solidário, mais livre”, concluiu.

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