Juliana Campos: “A Enfermagem do Trabalho é uma área de grande impacto nas comunidades.”

Juliana Campos é enfermeira e é pós-graduada em Enfermagem do Trabalho pela Escola de Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa. É de Paredes, tem 40 anos e é, atualmente, coordenadora de Enfermagem do Trabalho na IKEA Industry, cuja principal missão se prende com a prevenção e com a educação para a saúde. O que é que a move? “É o cuidar que me chama.”

 

É enfermeira, na IKEA Industry. Quer percurso profissional a trouxe até aqui?

Trabalhei durante vários anos no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Em 2021, regresso ao norte do país, por motivos pessoais. É nessa altura que surge a oportunidade de ir para a IKEA Industry trabalhar na área da Enfermagem do Trabalho. Era uma área completamente nova para mim e, na altura, representou um grande desafio. Deixei de tratar de doentes para passar a cuidar de colaboradores. Deixei de me focar na vertente curativa para me concentrar na vertente preventiva.

 

Qual é o foco da Enfermagem do Trabalho?

O principal objetivo da Enfermagem do Trabalho é a prevenção. Claro que lidamos, também, com acidentes de trabalho e, por isso, também agimos na vertente curativa, mas o foco não está aí. O foco está na prevenção, na sensibilização. Na IKEA Industry temos cerca de 2000 colaboradores e é junto desta comunidade que trabalhamos na educação e promoção da saúde.

 

“A Católica ajudou-me a abrir horizontes.”

 

Quando é que decide fazer a pós-graduação em Enfermagem na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa?

Tomo essa decisão já depois de assumir o cargo de coordenação na IKEA Industry, tinha eu já uma equipa de 9 enfermeiros a meu cargo. Senti uma necessidade grande de aprofundar os meus conhecimentos. Para gerir eficazmente, é fundamental compreender o que se está a fazer. Havia muitas questões que me suscitavam dúvidas e queria compreendê-las melhor. Procurei uma instituição de ensino de referência e, dadas as referências, confiei na Universidade Católica.

 

O que é que mais a marcou durante a pós-graduação?

A Católica ajudou-me a abrir horizontes. Quando iniciei a pós-graduação, já tinha alguns meses de trabalho na área, mas havia ainda práticas que eu desconhecia ou que realizava sem compreender plenamente o sentido. Tive professores com experiência prática na área e isso foi fundamental. Ajudaram-nos a perceber que a Enfermagem do Trabalho vai muito para além da realização de exames e rastreios. Por exemplo, nunca tinha ouvido falar de avaliação de riscos. Sabia que as pessoas estavam expostas a ruído e que deviam usar abafadores, mas não compreendia os níveis de decibéis prejudiciais à saúde. Foi uma experiência muito gratificante e recomendo vivamente a formação a quem esteja a trabalhar na área. Recentemente estive na Católica, numa conferência, onde tive oportunidade de partilhar a minha experiência com muitos alunos de licenciatura. Dou, sinceramente, os parabéns à Católica, porque são poucas as instituições que abordam esta área da Enfermagem e é uma área de grande impacto nas comunidades.

 

É uma área que exige constante atualização…

Sim, é uma área que está em constante evolução, com novas normas, riscos emergentes e realidades diferentes a surgir. Temos de estar atentos às alterações legais, às novas abordagens na prevenção de doenças e aos comportamentos da população. O que funcionava há cinco anos pode já não fazer sentido hoje. É esse dinamismo que me motiva também.

 

Ser enfermeira numa indústria implica estar mesmo no terreno?

Sim, sou uma enfermeira que usa colete e botas de biqueira de aço (risos). O meu local de trabalho é a fábrica, no meio de poeiras, químicos, ruídos. É muito importante estarmos no terreno e no contexto real de trabalho dos colaboradores, porque é no local que conseguimos garantir que são usados os equipamentos de proteção individual (EPI) e é fundamental estarmos perto das pessoas para que consigamos, efetivamente, sensibilizar para a importância de se protegerem e para a importância de cuidarem da sua saúde e da dos que os rodeiam. Por exemplo, só estando no terreno é que conseguimos compreender por que razão uma pessoa não utiliza um determinado EPI. Pode não ser apenas por desleixo, mas talvez por desconforto. É importante explicar as consequências dessa escolha. Por exemplo, não utilizar abafadores de ruído, hoje, pode resultar em perda auditiva ou mesmo surdez no futuro. Muitas vezes, os colaboradores não estão sensibilizados para estas questões. Realizamos, também, visitas aos postos de trabalho de todos os colaboradores. Se um colaborador regressa de baixa com limitações físicas e o seu posto de trabalho não está adequado, temos de verificar as condições e adaptá-las à dua nova realidade física.

 

“É o cuidar que me chama.”

 

Como foi o processo de passar de enfermeira em ambiente hospitalar para enfermeira numa fábrica?

Foi um grande desafio e foi, por isso, que precisei tanto de fazer formação. No hospital, administrava medicação endovenosa, realizava pensos, focava-me na vertente curativa. Não havia continuidade, pois os pacientes eram internados e depois iam embora, sem que tivéssemos feedback. Aqui, temos os colaboradores diariamente connosco e prestamos-lhes cuidados de forma contínua, acompanhamos a sua evolução. É muito gratificante acompanhar este caminho. Um outro aspeto importante prende-se com o facto de o nosso trabalho acabar por ter um impacto grande fora da fábrica. Quando fazemos campanhas de sensibilização e diferentes rastreios queremos garantir que a mensagem não chega só aos próprios, mas que também a possam levar para as suas casas e famílias. Queremos que tudo o que fazemos aqui na fábrica tenha um impacto lá fora.

 

Há mais de 20 anos decidiu que queria ser Enfermeira. O que é que a motivou a escolher esta profissão? Provavelmente sem sequer sonhar que viria a trabalhar na área da Enfermagem do Trabalho…

Jamais (risos). Nunca me passou pela cabeça que iria acabar nesta área. O que me trouxe para a Enfermagem foi o desejo de poder cuidar. Na minha infância, cuidei dos meus avós. O meu avô era diabético, sofreu vários AVCs e ficou acamado. Sempre cuidei dele. Já mais tarde, quando regressei ao norte, depois de tantos anos em Lisboa, vim para cuidar da minha avó. É o cuidar que me chama.

 


Pessoas em Destaque é uma rubrica de entrevistas da Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto.

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