Ir. Thaís Vogt: “Na Psicologia, nós somos o instrumento do nosso trabalho”

Ir. Thaís Vogt tem 31 anos e é natural do Rio Grande do Sul, no Brasil. Vive em Portugal há cinco anos. É membro do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt e estudante de Licenciatura em Psicologia da Faculdade de Educação e Psicologia. Entrou para a comunidade à procura de um sentido para a sua vida e encontrou uma vocação. Estuda Psicologia com o sonho de ser psicóloga: “A Psicologia está no meu coração há muito tempo.”

 

É natural do Brasil, mas vive em Portugal há cinco anos. O que é que a trouxe cá?

Como irmã do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt, encontrava-me em formação no Brasil, quando fui desafiada pela minha superiora provincial a vir para Portugal. Desde aí, tenho procurado dedicar as minhas forças a servir à missão de Schoenstatt neste país, abraçando-o como se fosse a minha própria pátria. Eu não esperava estar em Portugal, mas vejo que é Deus quem conduz a minha vida e que foi Ele quem me chamou a estar aqui.

 

Quando é que entra para Irmãs de Maria de Schoenstatt?

Saí da casa dos meus pais com 16 anos. Com essa idade fui viver junto da comunidade, mas ainda sem pertencer efetivamente a ela. Foi um tempo de discernimento vocacional, um período de busca e reflexão. Só passados três anos é que começo o meu período de formação propriamente dito já com o desejo de me tornar Irmã de Maria. Enquanto Irmãs de Schoenstatt temos uma espiritualidade mariana, mas cujo centro é Cristo. Acreditamos que Maria, que amou tanto a Jesus, é quem nos ajuda a levá-lo ao mundo. Queremos amar Jesus como Maria, ser essa presença viva de Jesus e de Maria no mundo. Muitos conhecem-nos através da imagem da “Mãe Peregrina”, imagem que segue sempre nas semanas de missão do projeto Missão País. Com esta imagem, pomo-nos a caminho e procuramos ser para os outros aquilo que Deus é para nós.

 

“Ao seguir esta vocação, Deus não me retirou os meus sonhos, bem pelo contrário, Ele acrescentou ainda mais sonhos à minha vida.”

 

O que é que a move?

Entrei para a comunidade à procura de um sentido e propósito para a vida. Sempre tive uma vida muito normal, se assim podemos dizer. Tive pais sempre muito presentes e muitos amigos, com quem ainda mantenho laços fortes. No entanto, sentia que algo me faltava, como se houvesse um vazio por preencher. Quando aos 16 anos fui viver com as irmãs, compreendi que ao tornar-me irmã não estava a abdicar da minha liberdade. Era exatamente o contrário, estava a descobri-la de forma mais profunda. Muitas vezes pensa-se primeiramente naquilo que se perde ao entrar numa comunidade religiosa e pouco se reflete sobre aquilo que se ganha. O mundo tende a acreditar que ser irmã significa viver enclausurada e sempre a rezar ou que esse caminho é escolhido por mulheres que não encontraram companhia. Mas essa visão está mesmo muito longe da realidade.  Não é uma prisão – é um sentido para a vida. Eu encontrei o sentido da minha vida. Ao seguir esta vocação, Deus não me retirou os meus sonhos, bem pelo contrário, Ele acrescentou ainda mais sonhos à minha vida. Sinto-me realizada, através da minha vocação e também pela profissão que estou a construir.

 

É aí que entra a paixão pela Psicologia …

A Psicologia está no meu coração há muito tempo. Sempre tive três grandes amores: Psicologia, Medicina e Música. Gostava imenso das três áreas, e durante algum tempo senti-me confusa sobre qual seria o meu caminho. No entanto, sempre fui uma pessoa que aprecia desafios, e a Psicologia revelou-se uma área particularmente exigente e intrigante, em múltiplos sentidos. Na Psicologia, nós somos o instrumento do nosso trabalho. Precisamos ter a capacidade de olhar para o outro sem perder o foco em nós próprios — a isso chamamos de autocuidado. Se não estivermos bem, dificilmente conseguiremos ajudar os outros. Além disso, luto muito contra a ideia de que Psicologia é coisa para "malucos" ou "loucos". Felizmente, a geração atual tem vindo a desconstruir esta visão, reconhecendo o grande contributo desta ciência para a promoção de um estilo de vida saudável e funcional. A Psicologia é urgente, mais relevante do que nunca, e é importantíssimo investir na formação de profissionais qualificados para responder às necessidades emergentes da sociedade.

 

“Mais do que um caminho profissional, encaro este percurso como uma missão.”

 

O que tem sido mais marcante na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica?

Sinto que estou no lugar certo. Em cada professor, vejo uma dedicação genuína. Não estão só para transmitir matéria, vão muito além disso. Uma frase do Professor António Fonseca acompanha-me e inspira-me até hoje: “Nós, psicólogos, não queremos salvar o mundo todo. Queremos salvar uma pessoa de cada vez.”

Este ano, o curso de Psicologia celebra 20 anos de história e recentemente vivemos os Dias da Psicologia, um momento extraordinário que reforçou ainda mais o espírito de família que nos une. Desde o primeiro dia, senti-me muito bem acolhida. Talvez o traje que uso possa ter causado alguma estranheza inicial, mas rapidamente criou-se uma relação muito bonita e hoje existe um à-vontade enorme em fazerem-me todas as perguntas que quiserem.

Deixo um grande bem-haja aos meus colegas e professores, verdadeiros faróis no meu caminho. É precisamente esse respeito, essa proximidade, esse ambiente de crescimento e partilha que fazem da Universidade Católica muito mais que um local de aprendizagem intelectual – transformam-na num lugar que nos ensina a ser mais humanos.

 

O que sonha para o seu futuro profissional?

Sonho em seguir a área clínica e da saúde. Confesso que, desde que tive Neurociências com a professora Patrícia Silva, despertou-se em mim um grande interesse por esta disciplina. Além disso, tenho o sonho de poder trabalhar na prevenção e de investigar sobre o cancro e a sua relação com o stress e o estilo de vida. Acredito firmemente que compreender essas relações pode ser um ponto de viragem para melhorar a qualidade de vida, reforçar os fatores de proteção e reduzir riscos. Mais do que um caminho profissional, encaro este percurso como uma missão. O meu objetivo é contribuir para a saúde e o bem-estar das pessoas, exercendo a minha profissão com responsabilidade, sensibilidade e ética, comprometida com os direitos e os deveres das pessoas e atenta às suas necessidades básicas.

 


Pessoas em Destaque é uma rubrica de entrevistas da Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto.

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