Gilles Lipovetsky: “O ideal de autenticidade leva-nos a mudar o mundo, os outros, e a nós mesmos”

“Estamos mergulhados na aceleração do tempo, num estado de urgência permanente, com a sua consequente desvalorização de qualquer coisa que não revele utilidade imediata. Só resistindo a esta visão utilitária podemos continuar a formar indivíduos capazes de lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva. Isto obriga-nos a reavaliar constantemente onde estamos e onde queremos estar.” Foi com estas palavras que o Diretor da Faculdade de Ciências Humanas da UCP, Nelson Ribeiro, deu início à conferência “Le nouvel âge de l'authenticité”, que decorreu dia 29 de março, em Lisboa.

O orador convidado desta conferência, integrada no Ciclo 'Conferências 50 Anos', que assinalam a fundação da FCH, foi Gilles Lipovetsky (Universidade de Grenoble), conhecido como o filósofo da hipermodernidade, autor de uma vasta obra sobre as transformações da sociedade contemporânea.

Sobre aquilo a que chama de “febre de autenticidade”, tema do seu último livro, “A sagração da autenticidade”, Lipovetsky, referiu que este ideal do “Sê tu mesmo” é “exigido pelos cidadãos, prometido pelos políticos e desejado pelos consumidores” e que coexiste com a sociedade do “falso”.

“O princípio da autenticidade é aquilo que mudou o homem e a mulher. É o que nos faz mudar mundo, os outros e a nós mesmos, e que se baseia numa regra de vida de obediência ao desejo individual”, referiu o filósofo.

Segundo o pensador, esta cultura da autenticidade, que tem evoluído ao longo dos anos, começa a ter expressão com o filósofo Jean-Jacques Rousseau, evoluindo em três fases até aos nossos dias.

A primeira, a que apelidou de fase heroica, no seculo XVIII, em que “o Homem procura obedecer à voz do coração, agindo de acordo com a sua experiência e consciência pessoal e que legitima a autonomia subjetiva”. Depois a segunda fase, marcada pela contracultura dos anos 60, com os movimentos estudantis de contestação à sociedade instituída e finalmente a radicalização do be yourself, que marca a atualidade.

“Nesta terceira fase vemos que o princípio da autenticidade está institucionalizado, é legitimado pela sociedade e isso é patente a vários níveis, sobretudo no marketing das empresas”, salienta Gilles Lipovetsky.

O seu último livro, “A sagração da autenticidade”, foi recentemente traduzido para português e faz parte de uma vasta obra sobre a modernidade, individualismo, ética ou globalização. L´Émpire de l´éphémère; Le Crépuscule du devoir; La Troisième femme ; Le Luxe éterne são apenas alguns dos livros já publicados pelo autor.

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