“A cultura é uma forma de lidar com o irreparável”

Pode a cultura reparar os efeitos da guerra? Esta foi a grande questão em debate na primeira edição do Science Café da Transform4Europe, organizado pela Universidade Católica Portuguesa (UCP) como um evento paralelo à 14.ª Lisbon Summer School for the Study of Culture.

Christiane Solte-Gresser, Diretora do Käte Hamburger Research Centre for Cultural Practices of Reparation (CURE), na Universidade do Sarre, colocou a questão da reparação dos efeitos da guerra sob dois pontos de vista: “como pode tudo isto ser reparado? E pode, realmente, ser reparado?”

A renomada investigadora referiu os vários tipos de danos causados pela guerra – políticos, económicos, ecológicos, físicos, psicológicos, culturais e transgeracionais e sublinhou que “há danos irreparáveis”: “Existem danos irreparáveis, como crimes contra a humanidade, genocídio, escravatura ou colonialismo. A cultura é uma forma de lidar com o irreparável”.

Apesar de ressalvar que “não existe uma solução simples através da cultura”, destaca a necessidade de continuar a investigar o assunto. “A cultura abre espaços para encontros, para entrar em mundos ficcionais, para aprender algo sobre pessoas, experiências, culturas, posições que nunca teríamos conhecido se não tivéssemos lido o romance, visto o filme, etc”, notou.

Já Isabel Capeloa Gil, Reitora da UCP, focou a intervenção na memória advogando que “o papel da cultura não é criar humanização”. “A cultura permite a antecipação, o conhecimento e a sensibilização” da guerra e dos seus efeitos e “cria resiliência”: “Enquanto permite às comunidades testemunhar, cria uma vontade de sobreviver e mudar o futuro”.

Acreditando que, no longo prazo, a cultura e a educação podem prevenir futuras guerras, a Reitora da UCP destacou importante o papel das universidades na “criação de espaços onde visões divergentes possam ser discutidas” para que, através do diálogo seja permitido “aceitar a responsabilidade pela sociedades” em que vivemos e pelo futuro que queremos.

“A missão da Universidade é contribuir para a criação de indivíduos que, através do conhecimento, possam fazer escolhas fundamentadas para fazer progredir as suas vidas e as das sociedades em que se inserem”, declarou Isabel Capeloa Gil.

Com o objetivo de promover o diálogo entre especialistas e a comunidade, o Science Café da Transform4europe juntou duas académicas a uma audiência composta por dezenas de pessoas das mais variadas idades e nacionalidades na Fundação Calouste Gulbenkian.

Isabel Capeloa Gil, Reitora da UCP e Professora Catedrática de Estudos de Cultura, lidera o grupo dedicado ao estudo da cultura, arte e conflito no Centro de Estudos de Comunicação e Cultura. Já Christiane Solte-Gresser, Diretora do Käte Hamburger Research Centre for Cultural Practices of Reparation na Universidade do Sarre, dedica-se a estudar o Holocausto, as funções políticas e sociais da cultura, entre outros temas.

Reveja a sessão completa aqui

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