Desde a década de 1990, as organizações de economia social (OES) portuguesas cresceram em número e em visibilidade. Não obstante o reconhecimento público e político atribuído pelo governo português à economia social, enquanto esfera socioeconómica de provisão de bem-estar social, o campo de atuação das OES é marcado pela complexidade e volatilidade conjuntural, por uma lógica de competitividade acompanhada de controversas práticas de gestão nomeadamente no que diz respeito à prestação de contas.
De forma genérica, o setor da economia social é, pelo menos em parte, percebido "com alguma desconfiança como causa de ineficiência e prova da primazia de certos elementos — personalismos, corporativismo — acima da missão a […] que dizem servir” (Iglesias & Carreras, 2013: 12) revelando má conduta, conflitos de interesse e falta de transparência, contribuindo para um gradual descrédito na eficiência gestionária e na eficácia do desempenho destas organizações, o que condiciona a legitimação da sua ação. Com efeito, a ineficiência de algumas OES e a secundarização da sua missão influencia a confiança depositada na legitimidade das suas operações, exigindo que estas organizações sejam mais transparentes e claramente responsáveis (Brown & Jagadananda, 2007).
De igual modo, embora a importância de uma prática de prestação de contas transparente alimente diversos discursos e espaços de debate, a literatura sobre o assunto é muito escassa, principalmente em português e no que diz respeito ao setor da economia social portuguesa. A literatura existente geralmente reflete contribuições dispersas e fragmentadas, quase sempre adjacentes a outros conceitos ou temáticas, dentro da administração pública ou responsabilidade social de organizações do setor privado com fins lucrativos.
É, neste contexto, que nasce o Projeto “Transparência nas Organizações da Economia Social portuguesas”, baseado numa abordagem de investigação-ação participativa, que engloba a combinação de técnicas quantitativas e qualitativas para recolher e analisar dados e partilhar práticas, desafios e potencialidades sob um processo contínuo e consciente de reflexão e ação. No global, os resultados esperados são encarados como processos e ferramentas de construção contínua sustentados numa lógica de aprendizagem organizacional transversal às diferentes atividades a serem realizadas. O Projeto é promovido pela Área Transversal da Economia Social da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto (ATES/UCP – Porto) e apoiado pela Fundação Porticus e pelo BPI/Fundação “la Caixa”.